A Colecção de Armaria – Por Jorge Caravana

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Definição

 

Definição de “coleccionismo”, é a prática que as pessoas têm de guardar, organizar, trocar e expor diversos itens por categoria, em função de seus interesses pessoais. Em todo o mundo, milhões de coleccionadores organizam as mais diversas colecções de objectos. Um dos principais estudos recentes sobre o tema foi publicado pelo historiador alemão Philipp Blom, no qual ele avalia o impacto da Revolução Industrial sobre o hábito de coleccionar.

(in Wikipédia)

Não é possível localizar no tempo o início desta prática, pensa-se que desde a pré-história, eventualmente, se juntavam “coleccionavam” artefactos, crânios etc.. No entanto é na idade média que os nobres iniciam colecções, principalmente de objectos raros muitas vezes vindos de longínquas paragens, pintura entre outros. No renascimento ganha mais importância a pintura e as colecções de espécies naturais, chegando ao ponto de coleccionar indivíduos (seres humanos vivos) com malformações raras.

Com a idade moderna e a industrialização as colecções tornaram-se ainda mais numerosas e variadas, ao alcance do mais comum dos mortais, como sejam: selos, cromos, latas de cerveja, brinquedos, miniaturas de automóveis, colecções de colecções… Enfim tudo.

No entanto é absolutamente necessário:

  • Que o coleccionismo não se torne uma doença grave, o TOC, Transtorno Obsessivo Compulsivo.
  • Que não se resuma a “Juntar”, determinados objectos, forrando paredes ou prateleiras, sem que se defina um objectivo de estudo profundo dos objectos que se adquirem, muitas vezes após uma autêntica “Caça”.
  • Que a colecção seja partilhada com outros coleccionadores e público interessado, pois só assim ela “Existe”.
  • Que se equacione o futuro da colecção após a nossa existência, problema que atormenta todos os coleccionadores.

 

O porquê de uma Colecção de Armaria.

Pensemos que a História se fez com uma arma na mão e que nem sempre esta arma significava combate e agressão ou defesa, que muitas vezes significava apenas uma afirmação de “Status”, ranking social e não raramente serviam para troca de ofertas a selar um tratado de paz, ou de cooperação. Há inúmeros exemplos citados por Nuno Vassalo e Silva, referindo-se a cartas de Afonso de Albuquerque, obras de Sousa Viterbo, João de Barros e as suas próprias, no livro da Colecção Caravana “Rituais de Poder Armas Orientais”.

Embora se possa dar um âmbito mais largo a uma colecção de armaria, eu escolhi o das armas brancas, pela nobreza do combate corpo a corpo, ligadas à expansão Portuguesa pelo Oriente, fazendo a ponte do tema com a Epopeia das Descobrimentos, por entender ser o que mais se adequa à minha forma de conceber uma Colecção de Armaria. Não de armas portuguesas como se poderia esperar, mas sim orientais, ou seja de povos que lutaram muitas vezes com os portugueses, assim como contra os portugueses, mas que sobretudo com eles trocaram presentes, conhecimentos quer de armaria quer de joalharia, como é exemplo o do Imperador Akbar (1556-1605) que reinou no maior império indiano, ao enviar emissários a Goa onde além de aprenderem o ofício, tinham como missão “convidar”estes artífices portugueses para Fathepur-Sikri. Esta comitiva foi recebida conjuntamente com missionários jesuítas, dando educação ocidental aos seus filhos, entre os quais o que o sucedeu, Jahangir / Salim (1605-1627). Akbar permitiu os enterros cristãos e por vezes assistindo à missa, onde por respeito se ajoelhava e retirava o turbante. Às sextas-feiras, discutia religiões de uma forma ecuménica e uma das suas mulheres era Goesa.

Nesta época o intercâmbio cultural era enorme, fazendo-se os nobres europeus retratar usando armas orientais, assim como os orientais adoptaram lâminas portuguesas em algumas das suas armas mais emblemáticas como é exemplo a Pattá e o Firanghi, cujas designações revelam esta simbiose.

 

As colecções privadas e os museus

 

As colecções privadas são muitas vezes o embrião de museus, sendo por vezes estes compostos exclusivamente por colecções privadas. Seria nefasto enumera-los nesta conferência, passarei a referir alguns exemplos: o Museu Britânico, iniciado após a morte de Sloane em 1753, sendo a sua colecção doada à Real Sociedade de Londres, veio depois resultar no nascimento daquele museu. A Wallace Collection em Londres, que desde o princípio inspirou a minha colecção. O Museu Stibbert em Florença. Em Portugal o Museu da Fundação Gulbenkian, o Museu da Fundação Oriente baseado principalmente na aquisição de uma enorme colecção privada, o Museu de Évora, Museu José Régio em Portalegre, o Museu da Fundação de Bragança em Vila Viçosa, o Museu de Arte Moderna no CCB, a Casa Museu António Medeiros e Almeida e a Fundação Anastácio Gonçalves em Lisboa, o MUDE, entre muitos outros, tão ou mais importantes que os referidos.

Perpetuar uma colecção, mantendo-a viva e unida, é muito importante, pois foi o perfil do coleccionador que a definiu, que adquiriu esta peça e não outra, dando uma personalidade única a cada colecção. É por isso uma preocupação constante do coleccionador o destino da sua colecção, quer em vida quer após a sua morte, sendo frequente, que os seus descendentes constituam uma fundação, quando tal é possível, ou integrando-a num museu.

 

Nota: Excerto modificado, de conferência apresentada no Museu do Oriente, a 12 de Março de 2015, por altura da exposição “Jóias da Carreira da Índia”.

Apresentado como documentação de suporte ao Curso de Formação de Coleccionadores ministrado pela APCA em 21 e22 de Outubro de 2017.

 

Bibliografia sobre armas brancas orientais aconselhada:

The Essencial Guide To Collectibles – AlistairMcAlpine & ChathyGiangrande – ISBN 0-670-03032-5

The Japanese Sword A Comprehensive Guide – Kanzan Sato – ISBN 978-0-87011-562-2

Family Crests Of Japan – ISBN 978-1-933330-30-3

Kris Hilts – Vanna Ghiringhelli – ISBN 978-88-7439-585-9

The Invincible Kris 2 – Vanna Ghiringhelli – ISBN 978-88-95125-05-3

A Glossary Of The Construction, Decoration and Use of Arms and ArmorIn All Coutries And All Times – George Cameron Stone – ISBN 0-48640726-8 (pbk.)

Islamic Weapons Maghrib to Moghul – Anthony C. Tirri – ISBN 0-9747192-7-7

On Damascus Steel – Leo S. Figiel, MD. – ISBN 0-9628711-0-9

A Desccription Of Indian And Oriental Armour – Egerton Of Tatton – ISBN 81-206-1205-1

Islamic And Oriental Arms And Armour A Lifetime´s Passion – Robert Hales – ISBN 978-0-9926315-0-5

Arms And Armor From Iran The Bronze Age To The End Of Qajar Period – Manouchehr Moshtagh Khorasani – ISBN 10  3-932942-22-1 / ISBN 13  978-3-932942-22-8

Rits Of Power Oriental Weapons Collection Of Jorge Caravana – Jorge Caravana and cols. – ISBN 978-989-658-056-8

www.caravanacollection.com